13 Jun 2025, 10:02
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NOVOS TEMPOS
Por Sérgio Carvalho
A 12 de junho de 1985, Portugal assinava o tratado de adesão às Comunidades Europeias, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Passaram-se quarenta anos após esse momento. Quatro décadas depois, somos um país e um povo muito diferentes daquele que assinou a adesão a um projeto económico e social de paz e prosperidade.
Pertenço à geração que cresceu e assistiu à chegada dos fundos de coesão que permitiram desenvolver o país ao nível de infraestruturas, ao fim das fronteiras e à livre circulação, mas também ao nascimento da moeda única. Os mais novos nem imaginam o que eram as fronteiras, os câmbios e os carimbos de passaporte.
Biblicamente, o número 40 representa uma geração, um tempo de mudança e de que algo melhor está para vir, mas será que é isso que se avizinha para as nações e os povos da União Europeia?
Quão longe estamos dos pais fundadores das Comunidades Europeias, como Robert Schuman, Jean Monnet, Konrad Adenauer, entre muitos outros… Os pioneiros do sonho europeu pensaram uma Europa de paz e de prosperidade, em que as pessoas valiam mais que as ideologias e o capital. Sonharam uma Europa de Nações que se entreajudavam e praticavam a solidariedade, em que os países mais ricos contribuíam para o desenvolvimento dos mais pobres, a fim de se encontrar uma equidade entre todos os povos.
Os católicos como Robert Schuman foram muito importantes neste processo. Shuman foi mesmo declarado Venerável, em 19 de junho de 2021, pelo Papa Francisco, desenrolando-se o seu processo de beatificação e canonização, atualmente, na Congregação para as Causas dos Santos na Santa Sé. Entre 1958 e 1960 foi o primeiro presidente do Parlamento Europeu e o Papa Paulo VI definiu-o como «um infatigável pioneiro da unidade europeia».
Diz-se que foi ele quem escolheu a bandeira da União Europeia, fundo azul com um círculo de doze estrelas, inspirado na visão do livro do Apocalipse, capítulo 12, versículo 1: «apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça.» Segundo a tradição cristã, esta Mulher vestida de sol é uma imagem de Maria, mãe de Jesus. Aquelas doze estrelas representam as matrizes da Europa: as doze tribos de Israel (Judaísmo); os doze Apóstolos de Jesus (Cristianismo) e os doze deuses do Olimpo (cultura clássica greco-romana).
A União Europeia está a atravessar uma crise profunda e Portugal como seu membro não é uma exceção. Populismos e antieuropeístas ganham terreno. Entre a guerra Russo-ucraniana, o conflito Israelo-palestiano, a emergência económica da China e da Índia, e a política protecionista dos velhos aliados norte-americanos, pintam de negro o horizonte. Mas a Mulher vestida de sol brilhará e afugentará as trevas do medo e da guerra.
A Europa tem de ser fiel às suas origens cristãs e dar segurança, paz e prosperidade a todos os seus povos. Deve ser um farol para todas as nações e um porto de abrigo para os perseguidos por amor da justiça.
Portugal tem de ultrapassar esta «crise dos quarenta» e assumir-se como uma nação grata pela solidariedade europeia, deixar-se da política da mão estendida e passar a ser proativo e um povo com maturidade cívica e política.
Ninguém pode ficar indiferente quando 20 a 30% da população vive no limiar ou abaixo da pobreza e quase 50% precisam de apoios estatais para sustentar a economia.
As pessoas têm de voltar a ser o centro de toda a ação da Europa e não o capital ou o Estado. Se todos os europeus conhecerem a sua História e a sua matriz civilizacional, vivendo e defendo os princípios da liberdade, da igualdade, da solidariedade, da reconciliação e da paz, este «velho continente» voltará a ser o exemplo a ser seguido, não pela força das armas, mas pelos seus valores e atitudes.
Sérgio Carvalho, Professor e Jornalista