Alma e Corpo Ressequidos

Por Alexandre Gonçalves*

Frias madrugadas que acolhem sem dignidade os idosos. Bons ouvintes, transmissores excepcionais de conhecimento. Estradas percorridas e lágrimas que escorrem pelo rosto. Corpos privados de calor, carinho, amor e respeito.

Isolamento, silêncio e vazio. Carência de afectos, triste sina. Atitudes indecorosas daqueles que os apelidam de empecilhos ou fardos. Configurações gélidas repletas de lodo.

Sociedade desalinhada e portões sem edifícios. Dúbios contextos morais e existenciais. Morrer de indiferença, a ausência imensa. A ofensa que ofusca o amor e a inclusão social envergonhada.

A intolerância, incompreensão, violência, preconceito, negligência e abandono tingem a aberração e o desenho impetuoso. Coléricos tiranos e tamanha crueldade. Assassinos camuflados e comunidades descontroladas. Abusos frequentes, aconchego dos ricos e dos pobres.

Olhares meigos, desabrigados e esquecidos. Sorrisos ácidos e a fragilidade social no seu auge. Ser idoso no mundo contemporâneo, indumentária áspera. Fraternizar com o pânico e redigir a própria morte.

Rostos pálidos embrulhados em tecidos de inquietação, dor e melancolia. Culpados pela sua condição de saúde e observados como camada social inferior. “Não sirvo para nada”, “Só estou a dar trabalho”. Indigna expropriação de direitos, tempos turvos e gabinetes macios.

Os sonhos são uma espécie de contratempo. Ruas coloridas em tons de sangue, desdém e ira. Praças vazias, lugares ermos, portas de madeira quebradiça e trajes enfermos. As palavras nunca dançam numa casa desabitada.

Processos de exploração sem fim, indicadores de ruína. Maltratar com consciência e a imposição de desejos. Olhos de chuva e de vento, paladares sepulcrais. A auto-estima desviada e a cinérea submissão, realidade umbrosa, estéril e rasteira.

Urge cultivar a solidariedade e edificar um mundo mais prazenteiro. Incluir a palavra envelhecimento no dicionário. Abraçar e respeitar a velhice. Cuidar é amar!

A velhice não é um problema, nem tão pouco a decadência do ser humano. Sociedade para todas as idades. Preservar a nossa história, tantos ensinamentos. Compreender o tempo e o espaço.

Os idosos sonham, ensinam, aprendem e são úteis. Outorgam vida a qualquer cenário. Conhecer, resguardar e aceitar todas as etapas da vida. Garantir o nosso próprio espaço no futuro.

 

 

*Escritor e Técnico Superior na Divisão de Educação
da Câmara Municipal da Guarda

Partilhar nas redes sociais

Últimas Notícias
Corrida São Silvestre Cidade do Porto regressa às ruas da baixa este domingo
26/12/2025
Autarquia reforça Campanhã com inclusão em 13 bairros de habitação social
26/12/2025
Porto avança com novo sorteio de arrendamento acessível
23/12/2025
Município do Porto aprova orçamento de 491,3 milhões de euros para 2026
23/12/2025
Hospital Conde Ferreira cria centro de criação artística para valorizar a saúde mental
22/12/2025
Polícia Municipal do Porto vai receber 80 novos agentes
22/12/2025
Trabalho, dignidade e responsabilidade social: uma leitura cristã do “pacote laboral”
19/12/2025
Final da edição de 2025 de "Desporto no Bairro" com espetáculo na Avenida dos Aliados
19/12/2025
Corrida São Silvestre Cidade do Porto regressa às ruas da baixa este domingo
26/12/2025
Autarquia reforça Campanhã com inclusão em 13 bairros de habitação social
26/12/2025