Em
O Primeiro de Janeiro

10 Feb 2023, 0:00

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Alma e Corpo Ressequidos

Por Alexandre Gonçalves*

Frias madrugadas que acolhem sem dignidade os idosos. Bons ouvintes, transmissores excepcionais de conhecimento. Estradas percorridas e lágrimas que escorrem pelo rosto. Corpos privados de calor, carinho, amor e respeito.

Isolamento, silêncio e vazio. Carência de afectos, triste sina. Atitudes indecorosas daqueles que os apelidam de empecilhos ou fardos. Configurações gélidas repletas de lodo.

Sociedade desalinhada e portões sem edifícios. Dúbios contextos morais e existenciais. Morrer de indiferença, a ausência imensa. A ofensa que ofusca o amor e a inclusão social envergonhada.

A intolerância, incompreensão, violência, preconceito, negligência e abandono tingem a aberração e o desenho impetuoso. Coléricos tiranos e tamanha crueldade. Assassinos camuflados e comunidades descontroladas. Abusos frequentes, aconchego dos ricos e dos pobres.

Olhares meigos, desabrigados e esquecidos. Sorrisos ácidos e a fragilidade social no seu auge. Ser idoso no mundo contemporâneo, indumentária áspera. Fraternizar com o pânico e redigir a própria morte.

Rostos pálidos embrulhados em tecidos de inquietação, dor e melancolia. Culpados pela sua condição de saúde e observados como camada social inferior. “Não sirvo para nada”, “Só estou a dar trabalho”. Indigna expropriação de direitos, tempos turvos e gabinetes macios.

Os sonhos são uma espécie de contratempo. Ruas coloridas em tons de sangue, desdém e ira. Praças vazias, lugares ermos, portas de madeira quebradiça e trajes enfermos. As palavras nunca dançam numa casa desabitada.

Processos de exploração sem fim, indicadores de ruína. Maltratar com consciência e a imposição de desejos. Olhos de chuva e de vento, paladares sepulcrais. A auto-estima desviada e a cinérea submissão, realidade umbrosa, estéril e rasteira.

Urge cultivar a solidariedade e edificar um mundo mais prazenteiro. Incluir a palavra envelhecimento no dicionário. Abraçar e respeitar a velhice. Cuidar é amar!

A velhice não é um problema, nem tão pouco a decadência do ser humano. Sociedade para todas as idades. Preservar a nossa história, tantos ensinamentos. Compreender o tempo e o espaço.

Os idosos sonham, ensinam, aprendem e são úteis. Outorgam vida a qualquer cenário. Conhecer, resguardar e aceitar todas as etapas da vida. Garantir o nosso próprio espaço no futuro.

 

 

*Escritor e Técnico Superior na Divisão de Educação
da Câmara Municipal da Guarda

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