Aumenta número de pessoas que chegam ao hospital com sintomas de AVC graves

De acordo com os dados nacionais, em 2020 estiveram nas unidades de AVC 12.892 doentes. Esta quinta-feira assina-se o Dia Nacional do Doente com AVC.

No início da pandemia, em 2020, aumentaram os doentes que chegavam ao hospital com sintomas de AVC muito graves fora dos tempos recomendados para tratamento.
À Renascença, a neurologista Liliana Pereira diz que a situação acabou por ser compensada depois do confinamento e o número de doentes atendidos até cresceu, não porque tenham aumentado os acidentes vasculares cerebrais, mas porque são considerados mais doentes para tratamento.
“Efetivamente, a partir de março de 2020, quando foi decretado o Estado de Emergência e entramos todos em confinamento, verificámos uma redução muito dramática no número de pessoas que recorreram ao hospital com sintomas de AVC e as que o faziam ou tinham sintomas muito graves, que não conseguiam mesmo esperar em casa ou, se ainda tivessem sintomas mais ligeiros, estavam a chegar fora dos tempos recomendados para fazer os tratamentos de fase aguda”, descreve.
A neurologista assinala que se tratou de uma fase relativamente curta.
“Foram três, quatro meses assim e depois verificámos que, à medida que também chegou o verão, as medidas, na altura, foram sendo um bocadinho aliviadas e começamos a ter os números semelhantes aos números que tínhamos antes da pandemia. E desde então esses números até têm vindo a aumentar.”
De acordo com Liliana Pereira, o aumento registado “não será porque estão a acontecer mais AVC's, mas porque estamos a considerar para tratamento pessoas para além das 4h30, para trombose, e das 6h00, para a trombectomia, que são os dois tratamentos de fase aguda possíveis de fazer ao AVC isquémico”.
“Estamos a ver um aumento progressivo do número de pessoas que chegam ao hospital com sintomas de AVC e a quem podemos oferecer tratamento”, acrescenta. 

Atenção aos fatores de risco
De acordo com os dados hospitalares nacionais, divulgados pela Direção-Geral da saúde, em 2020 o número de internados em Unidades de AVC foi idêntico ao de 2019, perto de 12.900, a esmagadora maioria dos quais por AVC isquémico.
É um tipo de AVC que pode ser evitado em 90% dos casos, desde que sejam controlados dez fatores de risco, entre os quais o excesso de peso, o colesterol, a hipertensão, a diabetes, o tabaco e o sedentarismo.
O problema, diz Liliana Pereira da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, é que são fatores que obrigam a mudanças do estilo de vida e as pessoas nem sempre estão disponíveis para mudar. “Sabemos que 90% dos AVC’s isquémicos podiam ser evitados, se tivéssemos em conta e conseguíssemos prevenir um conjunto de dez fatores de risco que contribuem para os 90% de AVC’s que são preveníeis”, observa.
A questão, no entender da especialista, é que, mesmo conhecendo os fatores, às vezes não atuamos sobre eles.
“A pessoa pode conhecer que tem o colesterol alto, mas não tomar as medidas em relação a adaptar a dieta ou, quando é necessário, a fazer medicação. E mesmo com esses fatores, nem todas as pessoas conseguem baixar os níveis de colesterol. Mas, conhecendo os dez fatores de risco, que além do colesterol, incluem a hipertensão, a falta de exercício físico, a constituição da dieta no geral e o peso da pessoa que acabam por andar um bocadinho relacionados, a arritmia, que é a fibrilação auricular, o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, a diabetes e também fatores mentais como a depressão e o stress”, enumera.
A lista integra vários fatores que são difíceis de controlar, sublinha a neurologista, destacando que “nem todas as pessoas hipertensas estão diagnosticadas. Depois, das que estão diagnosticadas nem todas estão medicadas ou cumprem a medicação de forma a atingir os valores de pressão que seriam normais”.
Tendo em conta que é um conjunto de fatores, e não um fator apenas, e que obriga a mudanças de estilo de vida, a especialista sinaliza que “há sempre uma certa resistência à mudança e, mesmo que a pessoa queira perder peso e fazer mais exercício físico, muitas vezes os tais fatores psicológicos, como a depressão e o stress interferem e impedem que se façam estas mudanças progressivas”.
“Conhecemos os fatores, tentamos todos intervir sobre eles e é muito importante que se conheça, mas, no conjunto é difícil atuar sobre todos ao mesmo tempo e vamos continuar a ter AVC's”, realça.
A neurologista da Sociedade Portuguesa de AVC defende, por isso, que se deveria apostar em campanhas nas escolas para que os bons hábitos sejam adotados logo desde cedo.
“A minha proposta é que se começasse a dar ênfase nas escolas logo desde pequeninos e chamar a atenção para estes fatores de risco, porque, se a pessoa ao longo da sua vida e logo desde a infância e adolescência conseguisse ter um estilo de vida saudável, ia beneficiar toda a saúde e não só prevenir o AVC”, conclui.
Esta quinta-feira, assinala-se o Dia Nacional do AVC. Uma doença que continua a ser a principal causa de morte e de incapacidade permanente em Portugal. Um em cada quatro adultos acima dos 25 anos vai sofrer um acidente vascular cerebral ao longo da sua vida.

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