16 Feb 2024, 0:00
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"Não é nenhum 'post scriptum', mas espero, já agora, que o meu sucessor, se não conseguir arranjar um vereador da Cultura, que seja uma pessoa capaz de encarnar esse papel, porque isso dá-nos a garantia de que a revolução vai continuar, ou seja, que vamos ter uma cidade em que dizemos abertamente, claramente, para quem goste e para quem não goste, [que] o pilar fundamental das nossas políticas tem que ser a Cultura, porque é isso que nos diferencia", disse esta quinta-feira Rui Moreira.
Segundo o mesmo órgão de informação, o autarca independente do Porto, que não se poderá recandidatar nas eleições autárquicas de 2025, falava esta quinta-feira na apresentação do programa comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril intitulado "Revolução, já!", que decorreu esta quinta-feira no Palácio dos Viscondes de Balsemão, na Praça Carlos Alberto, e que contou com a presença dos curadores Jorge Sobrado e José Augusto Bragança de Miranda.
Para Rui Moreira, a cidade observou "um epifenómeno cultural ali entre 1999 e 2001/2002", com a Capital Europeia da Cultura em 2001, "e depois o Porto entrou em ressaca".
"O que eu não queria é que o Porto entrasse em ressaca. O meu sonho é que não haja ressacas. Que possamos divertir-nos, que possamos entreter-nos, que possamos discutir, divergir, mas não entremos em ressaca", disse Rui Moreira sobre a vivência na cidade.
Sobre a relação da cidade com as revoluções, Rui Moreira assinalou que a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril pretende ligar-se "à cultura na cidade do Porto, não esquecendo aquilo que é o património que a cidade do Porto tem em termos das revoluções, são várias, algumas esquecidas".
"A [Revolução Liberal no Porto] de 1820 não foi esquecida porque nós resolvemos celebrá-la, mas o parlamento esqueceu 1820. Foi a revolução que lançou o constitucionalismo em Portugal", lembrando ainda o autarca "o 31 de Janeiro, muitas vezes esquecido" e que "foi o prelúdio para o 05 de Outubro", e também "a revolta do Porto de 1927", contra a Ditadura Miltar, com a semana sangrenta na Praça da Batalha, onde "morreram milhares ou centenas de pessoas, ninguém sabe muito bem".
Rui Moreira recordou ainda a receção do Porto a Humberto Delgado em 1958, na Praça Carlos Alberto, no âmbito das eleições presidenciais, motivo pelo qual a apresentação do programa "Revolução, Já!" foi feito no Palácio Viscondes de Balsemão, sito em frente à estátua do 'General Sem Medo'.
"O Porto é uma cidade muito ligada a este espírito revolucionário, mas um modelo de revolução contextualizado, uma revolução contextualizada, que não é revolta", diferenciou o autarca portuense.
Já questionado sobre se o ambiente pós-eleitoral não poderia interferir nas comemorações do 25 de Abril, Rui Moreira rejeitou que haja algum risco de "refutar Abril".
"Acho que é das revoluções mais consensuais, também porque seguiu um período de obscurantismo que durou 40 e muitos anos, só comparável com o Enver Hoxha [antigo líder albanês] e com poucos mais", considerando "natural que cada um de nós tenha o seu 25 de Abril".
Para Rui Moreira, mesmo "que o Estado resolva não o comemorar, ou apenas o comemore naquelas sessões cinzentas da Assembleia da República, cada um de nós vai comemorá-lo de certeza", tal como acontecerá nas ruas do Porto, antecipou.
"Mesmo aqueles que dizem no Facebook que bom era dantes, quando sabem que não era", frisou.