Bispo do Porto considera "absolutamente hediondos e inqualificáveis" casos de abuso sexual

O bispo católico do Porto, Manuel Linda, classificou os abusos sexuais de crianças no seio da Igreja como “absolutamente hediondos, inqualificáveis e que têm de ser combatidos com toda a energia”.

A posição de Manuel Linda é dada a conhecer numa declaração publicada esta quinta-feira na página da Internet da diocese, na qual afirma: “sofro e choro pelas vítimas de atos que são absolutamente hediondos, inqualificáveis, e que têm de ser combatidos com toda a nossa energia”.

Referindo-se ao Relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, divulgado na segunda-feira, o bispo do Porto diz que o resultado deste estudo demonstra “a oportunidade e a urgência da criação da Comissão Independente por parte da Conferência Episcopal Portuguesa, já que, ao contrário do que se imaginava, as vítimas não estavam a recorrer às Comissões Diocesanas para o Cuidado dos Frágeis”.

“Mesmo que, por vezes, no passado, não tenha utilizado a linguagem mais apta para exprimir o que sinto e penso, tudo farei para punir e pôr cobro a este flagelo. Nós, homens e mulheres da Igreja, que entregámos a nossa vida para servir o próximo, não podemos aceitar que os comportamentos de alguns clérigos ponham em causa os mais básicos valores da fé cristã”, considera.

Manuel Lima diz ainda saber que “o pedido de perdão às vítimas, não chega, não resolve, nem apaga os atos hediondos do passado”.

“Não obstante, é o mínimo que, neste momento, posso fazer, mais uma vez, em nome desta Diocese do Porto”, escreve.

O bispo do Porto acrescenta que cumprirá “exemplarmente” as normas emanadas da Conferência Episcopal Portuguesa e da Santa Sé, relativamente a este assunto.

“A Diocese do Porto já deu e continuará a dar passos no sentido de erradicar todo e qualquer género de abusos cometidos sobre menores e frágeis. Pessoalmente, tudo continuarei a fazer para que estes casos jamais se voltem a repetir”, frisa.

O relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja recebeu 512 testemunhos validados, o que permitiu a extrapolação para a existência de, pelo menos, 4.815 vítimas, tendo sido enviados 25 casos para o Ministério Público.

Os dados revelaram que 97% dos abusadores eram homens e em 77% dos casos padres, além de que em 47% dos casos o abusador fazia parte das relações próximas da criança.

A Conferência Episcopal Portuguesa vai tomar posição sobre o relatório a 03 de março, em Fátima.

Os abusos sexuais revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a sociedade portuguesa, à imagem do que ocorreu com iniciativas similares em outros países, com alegados casos de encobrimento pela hierarquia religiosa a motivarem pedidos de desculpa.

O distrito de Lisboa concentra o maior número de casos (120), seguindo-se os distritos do Porto (64 casos) e de Braga (55 casos), Santarém (26 casos), Aveiro (24 casos), Leiria (21 casos), Coimbra (19 casos), Setúbal (18 casos), Viana do Castelo (15 casos), Viseu e a Região Autónoma da Madeira (14 casos), Bragança (13 casos), Évora e Guarda (12 casos) e Castelo Branco (11 casos).

Os restantes distritos do país apresentam menos de 10 casos.

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