13 May 2022, 0:00
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Catedrático de História Global na Universidade de Oxford, o britânico Peter Frankopan, em entrevista ao jornal espanhol ‘El Mundo’, defendeu que “a guerra na Ucrânia podia ter sido evitada” e destacou o lado histórico do conflito.
“Quando há uma maternidade ou uma escola estão a ser bombardeada, a história não tem sentido. Nas últimas semanas, o uso da história tornou-se muito mais limitado: agora todas as imagens, a linguagem e o contexto têm mais a haver com a II Guerra Mundial. As afirmações de que a Ucrânia é um país ‘nazi’, de que está controlada por extremistas de extrema-direita, incluindo as afirmações de Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros russo, que garantiu que Hitler era em parte judeu são indicativos de como a Rússia tenta estabelecer paralelismos históricos. Para a Ucrânia, é simples: trata-se de sobreviver”, apontou o investigador inglês.
A invasão russa da Ucrânia vai mudar os dois países. “A guerra vai mudar a Rússia e obrigá-la a orientar-se completamente alheada do Ocidente. Boa parte da sua retórica é realmente aterradora, como se pode ver ao longo das noite na principal televisão estatal russa, no qual se fala de bombas nucleares no Mar do Norte que iria afundar o Reino Unido sob uma onda de 500 metros. Ou a acusar o Ocidente de ‘decadência’. Tudo isto é muito perigoso para as relações a longo prazo e está a tornar os russos mais nacionalistas, xenófobos e imprevisíveis. Isso terá consequências.”
Peter Frankopan apontou ainda que os próximos “14-21 dias” vão determinar o resultado da guerra, salientando que a “guerra poderia ter sido evitada”. “Poderíamos, por exemplo, ter dado uma resposta muito mais sólida e decidida em 2014. Não fizemos nada, inclusivamente aplaudimos a celebração do Mundial de 2018 na Rússia. Mas não nos podemos esquecer que quaisquer que sejam as nossas próprias faltas, não somos nós que estamos a bombardear casas de civis, massacramos pessoas nas ruas de Bucha nem enterramos homens, mulheres e crianças em valas comuns”, atirou.
A invasão vai, para o especialista, ficar resolvida à mesa de paz. “Todas as guerras terminam com negociações, esta não será diferente. Não espero uma solução rápida e fácil – pois é difícil para mim ver o preço que a Ucrânia pode aceitar pagar em termos de perda de território. Como em todas as coisas, aqui há cenários piores e melhores. Como digo, as próximas semanas vão ser cruciais para ver como terminam as coisas, incluindo para Putin”, finalizou o historiador.