21 Mar 2022, 0:00
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O presidente da Confederação Empresarial da Região do Minho (Confminho), Luís Ceia, disse à Lusa estar preocupado com as paragens de camiões e de atividade industrial em Espanha e o possível efeito no setor minhoto dos componentes automóveis.
"O que nós tememos aqui é que possa haver um encerramento, uma paragem temporária da fábrica de Vigo, que provoque um choque em cadeia", disse à Lusa o responsável da confederação minhota, referindo-se à fábrica automóvel da Stellantis.
Aquela unidade industrial tem "um impacto enorme" na região do Minho, já que "cerca de 40 a 50% das empresas que estão no parque empresarial da região, nomeadamente da região do Alto Minho, são empresas que trabalham para a Citroën", uma das marcas do grupo Stellantis.
Atualmente ocorrem em Espanha várias manifestações inorgânicas de camionistas, marcadas por marchas lentas, algo que está a causar problemas logísticos a toda a economia galega.
Esta é uma greve por tempo indeterminado no setor do transporte rodoviário de mercadorias, que ameaça o fornecimento de mercadorias à indústria do país.
"O problema na nossa periferia é que o que se passar em Espanha tem reflexos claros aqui. Nós costumamos dizer que o que for bom para Espanha é bom para Portugal, o que for mau para Espanha é mau para Portugal, claramente", sustentou.
Adicionalmente, a fábrica automóvel de Vigo tem-se confrontado com problemas relacionados com a falta de matérias-primas, nomeadamente componentes eletrónicos ('microchips'), e atualmente a sua atividade está condicionada, algo que gera receios no lado sul da fronteira, especialmente quanto à possibilidade de uma paragem mais prolongada.
"Não tem tanto a ver com o custo da energia, porque uma fábrica de automóveis não é um consumidor intensivo de energia. Mas receamos que isso [encerramento mais prolongado] possa acontecer. Isso seria terrível porque há aqui uma dependência muito grande daquela unidade", disse à Lusa Luís Ceia.
De acordo com a agência Efe, a Stellantis Vigo adiou uma entrada ao serviço que estava prevista para esta segunda-feira, perspetivando-se uma terceira semana de paragem de atividade.
As empresas portuguesas de componentes de automóveis que alimentam a fábrica galega estão no setor metalomecânico, fundições, têxteis e plástico, que elaboram, por exemplo, peças metálicas, elevadores para vidros, chapas, logótipos, assentos, volantes ou moldes.
Quanto aos efeitos da guerra na Ucrânia nas empresas minhotas, Luís Ceia disse não ter conhecimento de qualquer paragem de atividade devido à falta de matérias-primas, mas disse que "tem havido dificuldades enormes, os prazos de entrega têm sido dilatados e os preços têm subido consideravelmente".
"O que aconteceu foi que houve um arrefecimento da recuperação que vinha sendo feita" após o abrandamento da pandemia de covid-19, referiu o responsável da Confminho.
"Nós já vínhamos de um período com falta de matérias-primas, preços elevados e etc, e isto só veio afetar mais ou pelo menos evitar que se estivesse numa zona de alguma recuperação", reiterou.
Luís Ceia disse ainda que a exposição das empresas do Minho à Rússia e à Ucrânia é residual.
A Confminho, criada em 2021, agrega 12 associações empresariais do Alto Minho, Cávado e Ave, representativas de quase 120 mil empresas, com um volume de negócios de 31.316 milhões de euros e com um peso de 7,8 milhões de euros nas exportações.
As 12 associações empresariais da Confminho integram já a Confederação Empresarial do Alto Minho (CEVAL) e o Conselho Empresarial do Ave e do Cávado (CEDRAC).