21 Feb 2023, 0:00
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No centro da cidade do Porto, entre a VCI, a Rua de Monsanto e o Jardim de Arca d’Água, existe um terreno abandonado comum lago, do tamanho da Rotunda da Boavista. A massa de água nasceu das escavações dos alicerces de um campo de futebol que nunca chegou a existir. Há quem jure que na água se passeiam camarões negros, já foi local de pesca ilegal e avistam-se frequentemente garças-reais. Quem vive na zona chama ao pântano, com carinho, Estádio do Salgueiros.
“Tudo começou nos anos 90”. A história do lago, dos peixes e do clube tem mais de 30 anos, quando os terrenos do Regado – outro nome para a zona – eram ainda secos e sem charcas. “O então presidente da Câmara do Porto, Fernando Gomes, cedeu-nos os direitos de superfície daqueles terrenos para que aí construíssemos o nosso estádio”, explica Gil Almeida, atual presidente do Sport Comércio e Salgueiros.
Havia uma ideia de um estádio de 12 mil lugares, uma enormidade para um clube como o Salgueiros, mas que nesses anos voava na primeira divisão do futebol português, mantinha um apoio forte e consistente no povo de Paranhos e sonhava ser o maior clube de bairro da cidade.
Um estádio, piscinas, centro comercial e estação de metro
“O meu projeto era um estádio pequeno, agradável, simpático, mas com o conforto e a imagem dos estádios grandes. Espaço para 12 mil pessoas não era excessivamente ambicioso”, garante Pedro Karst, arquiteto responsável por todo o projeto que nunca viu a luz do dia.
Como faltavam meios económicos ao clube para erguer sozinho o estádio, o arquiteto arrancou para as suas “diligências”. Primeiro, desenhou uma série de prédios que ficariam nos limites do lote de Arca d’Água, a serem vendidos e a financiarem parcialmente a empreitada, incluindo uma bomba de gasolina (atual BP, essa sim, ganhou vida). Depois, na cabeceira norte do estádio, virado para a VCI, imaginou um centro comercial que fosse guiando um fluxo constante de dinheiro para o Salgueiros.