10 Feb 2022, 0:00
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O Movimento por um Jardim na Boavista afirmou hoje que a demolição da antiga estação ferroviária da Boavista, no Porto, vai “contra a vontade da população”, acusando tutela e autarquia de “desrespeito” e “ligeireza” na tomada de decisão.
Numa missiva enviada hoje ao ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, ao presidente da Infraestruturas de Portugal (IP), António Laranjo, e ao presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, o movimento afirma ter sido com a “mais profunda inquietação” que viu a decisão do Governo de “apoiar o processo de demolição da primeira estação ferroviária do Porto”.
Na terça-feira, um despacho publicado em Diário da República dava conta de que a antiga estação ferroviária da Boavista será demolida no âmbito da desafetação do domínio público de vários edifícios da Infraestruturas de Portugal (IP) para ser construído um El Corte Inglés.
O movimento, que é a favor de um jardim público nos terrenos onde o Corte Inglés tem intenção de construir um armazém comercial, salienta que a decisão é “contra a vontade da população” e denuncia o discurso de “inevitabilidade” usado para defender a condução do negócio, bem como a “ligeireza” com que as entidades aprovam a construção de “mais um centro comercial para o centro da cidade do Porto”.
“Inquieta-nos que não tenham tido a coragem de consultar a população (…) Inquieta-nos que não tenham sequer tentado encontrar um compromisso entre este negócio que ninguém quer e que, pelo contrário, tenham aprovado a duplicação de áreas de construção para lá dos limites regulamentados, retirando qualquer hipótese para a preservação da estação ou a criação de uma área verde numa cidade cada vez mais cinzenta”, refere.
A par do movimento, também o Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro - Grupo Ecológico (NDMALO-GE) manifestou, na quarta-feira, descontentamento com a decisão tomada por despacho.
No comunicado, o núcleo acusou a Câmara do Porto de ter aprovado um Pedido de Informação Prévia (PIP) do El Corte Inglés “antes deste deter a titularidade do terreno onde se desenvolverá o projeto urbanístico”, e atribuiu também responsabilidades à autarquia pela concretização do projeto devido à “alteração introduzida da qualificação do solo e aumento da capacidade produtiva”.
Considerando que nesta matéria a Câmara do Porto teve “uma arrogante posição de sobranceria”, o núcleo atribuiu ainda responsabilidades à autarquia por “não exigir o cumprimento das regras previstas no regulamento do Plano Diretor Municipal (PDM)”, considerando que esta é “responsável pela demolição do edifício”.
“A ela cabe decidir e aprovar a destruição deste marco da memória dos portuenses”, acrescentou.
Contactada hoje pela Lusa, a Câmara do Porto escusou-se a comentar as considerações feitas tanto pelo movimento como pelo núcleo..