17 May 2022, 0:00
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Dois anos depois da pandemia, já é possível concluir que 30 a 50% dos doentes que estiveram internados ficaram com problemas respiratórios. Fundação Portuguesa do Pulmão defende exame para o qual praticamente não há recursos.
Estima-se que 30 a 50% da população que esteve internada com covid-19 tem a função respiratória alterada". Este alerta é do presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão, que usa estes dados para defender que a maioria da população deveria fazer uma espirometria -um exame que avalia a função respiratória. José Alves, pneumologista e professor universitário, diz ao DN que a "necessidade de todos fazerem uma espirometria é cada vez maior", embora esteja consciente que aí "entramos noutro problema, porque neste momento é muito difícil disponibilizar esse exame".
A título de exemplo, o médico lembra que "as pessoas sabem qual é a sua tensão arterial, ou pelo menos sabem que existe, tal como sabem o que é o colesterol, ou a glicémia. Mas a função respiratória ninguém sabe. Depois acontece que há pessoas que têm pulmões fracos e outras não. E conforme têm ou não, vão ter mais doenças pulmonares", explica.
O presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão lembra que "a mortalidade por doenças respiratórias continua a ser a maior em termos evitáveis".
"Porque é preciso convencermo-nos disto: é tão importante fazer esse exame a uma pessoa que teve covid-19 como a uma pessoa que fuma, por exemplo.
A importância das vacinas
De acordo com os estudos mais recentes, a covid-19 deixou doentes desprotegidos relativamente a outras doenças respiratórias graves. "Estima-se que 30% a 50% dos adultos com diagnóstico de covid-19 grave possam ter anomalias pulmonares persistentes, após a doença aguda. À semelhança do que já acontece nos Países Baixos e na Andaluzia, onde a vacinação antipneumocócica é recomendada a doentes hospitalizados por covid-19 com evidência de disfunção pulmonar, a Fundação Portuguesa do Pulmão lembra a importância da prevenção", refere um comunicado daquela entidade.
A Fundação reforça, também, a eficácia e a segurança das vacinas, sublinhando que a vacinação continua a ser a melhor forma de prevenção de doenças respiratórias graves como a pneumonia. "Terminado o inverno, não devemos baixar a guarda. Tal como no resto do mundo, as doenças respiratórias continuam a ser uma das principais causas de morbilidade e mortalidade em Portugal. Embora a grande maioria seja prevenível ou tratável com intervenções economicamente acessíveis, não temos assistido a uma redução global da sua prevalência".
Segundo o Observatório Nacional das Doenças Respiratórias, morrem, diariamente, 36 pessoas com doenças respiratórias no nosso país. 16 desses óbitos têm como causa a pneumonia.
Estudos recentes revelam que 30% a 50% dos adultos com diagnóstico de covid-19 grave podem desenvolver anomalias pulmonares persistentes, após a doença aguda. Nos Países Baixos e na Andaluzia, as autoridades de saúde apostam na imunização para tornar o organismo mais robusto contra as infecções respiratórias. Recomendam, por isso, a vacinação antipneumocócica a doentes hospitalizados por covid-19, com evidência de disfunção pulmonar.
"Os últimos dois anos mostraram-nos a importância da prevenção - evitar o que já nos é possível, sempre com atenção a quem está mais vulnerável", explica José Alves.
"Quem esteve infetado com covid-19, por exemplo, corre maior risco de contrair novas infeções respiratórias. Algumas delas podem ser prevenidas através de imunização. É o caso da pneumonia. Para quê correr riscos?", questiona, enquanto lembra que a pneumonia não é um exclusivo do tempo frio. "Não podemos baixar a guarda, mesmo com a subida das temperaturas. Devemos preveni-la sempre e podemos fazê-lo em qualquer altura do ano, com particular atenção aos grupos de risco".
Quem teve covid-19 grave e adultos com doenças crónicas como diabetes, asma, DPOC e outras doenças respiratórias crónicas, doença cardíaca, doença hepática crónica, doentes oncológicos, portadores de VIH e doentes renais, deve ser protegido.
A vacina antipneumocócica é recomendada pela Direção-Geral da Saúde e já está incluída no Plano Nacional de Vacinação para as crianças e para os grupos considerados de maior risco, mas a sua eficácia está comprovada em todas as faixas etárias. No caso dos adultos, basta uma dose.