10 Oct 2025, 10:44
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NOVOS TEMPOS
Por Sérgio Carvalho
Em Portugal, vivemos a Semana Nacional da Educação Cristã, de 5 a 12 de outubro. No final do mês e inícios de novembro celebrar-se-á, em Roma, o jubileu do mundo educativo. Por estas razões, recordo um dos maiores pedagogos de todos os tempos – São João Bosco, fundador dos Salesianos e do Sistema Preventivo de Educação para formar «Bons cristãos e honestos cidadãos».
Criado no século XIX, o sistema preventivo de Dom Bosco continua a oferecer respostas concretas aos desafios da educação contemporânea — unindo razão, fé e amor como caminhos de esperança para os jovens e educadores.
Num tempo em que a educação parece oscilar entre a rigidez e o abandono, entre o excesso de controle e a ausência de sentido, a proposta pedagógica de Dom Bosco está mais viva do que nunca. O seu “método preventivo” não é uma relíquia do passado, mas uma pedagogia do futuro: educar pela presença, pela confiança e pela ternura.
Quando Dom Bosco começou a trabalhar com jovens órfãos e marginalizados nas ruas de Turim, o sistema educativo dominante era repressivo: corrigia-se pelo medo, castigava-se o erro, desconfiava-se da liberdade. Dom Bosco escolheu o caminho oposto. Confiou nos jovens, acreditou no bem que havia neles e construiu uma obra educativa baseada em três pilares — razão, religião e amor — que formam o coração do seu método preventivo.
O primeiro pilar, a razão, convida a uma educação inteligente e dialogante. Dom Bosco propunha regras claras e compreensíveis, explicando-as e justificando-as. “A razão é o fundamento de toda a boa educação”, escrevia ele. Hoje, numa sociedade marcada pelo ruído e pela desinformação, educar com razão significa ensinar a pensar, a discernir, a fazer escolhas com liberdade e responsabilidade. O educador não impõe: propõe caminhos, oferece critérios, confia na capacidade do jovem de compreender e crescer.
O segundo pilar, a religião, revela a dimensão mais profunda do projeto salesiano. Para Dom Bosco, educar era também evangelizar, isto é, conduzir o jovem ao encontro com Deus como fonte de alegria e sentido. Ele repetia aos seus rapazes: “A santidade consiste em estar muito alegre”. Numa cultura secularizada, onde muitos procuram espiritualidades instantâneas, o método preventivo propõe uma fé encarnada: orar com alegria, viver com esperança, servir com amor. É uma espiritualidade que humaniza e liberta, porque reconcilia fé e vida.
O terceiro pilar, o amor ou amabilidade, é o coração pulsante do sistema. A famosa “amorevolezza” salesiana é muito mais do que simpatia ou gentileza: é presença ativa, ternura exigente e amor que previne porque está próximo. Dom Bosco sintetizou esta atitude numa frase que atravessou séculos: “Não basta amar os jovens, é preciso que eles se sintam amados.” O educador salesiano previne o mal porque conhece, acompanha, escuta. No mundo digital de hoje, em que os vínculos se tornam frágeis e a solidão cresce, esta pedagogia da proximidade é talvez o maior desafio e a maior urgência.
O método preventivo é, acima de tudo, uma visão de esperança. Educar, para Dom Bosco, é acreditar que cada jovem traz dentro de si uma semente de bem que pode florescer, desde que seja acompanhada com paciência e amor. “Em cada jovem há um ponto acessível ao bem; é dever do educador encontrá-lo”, dizia o santo. Num tempo em que a escola se mede por resultados e não por relações, Dom Bosco lembra-nos que educar é mais arte do que técnica, mais vocação do que profissão.
A sua proposta continua a inspirar escolas, famílias, comunidades e ambientes digitais: estar com os jovens, compreender o seu mundo, oferecer-lhes razões para viver e sonhar. A atualidade do método preventivo está precisamente na sua profunda humanidade. Num mundo que tantas vezes educa para o ter e não para o ser, Dom Bosco recorda: “A educação é coisa do coração” — e o coração nunca sai de moda.
Sérgio Carvalho, Professor e Jornalista