18 Feb 2022, 0:00
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OPINIÃO
Alexandre Gonçalves*
Em Portugal, há atletas portadores de deficiência que são campeões da europa e do mundo. Guardam, seguramente, muitas histórias carregadas de lágrimas, sorrisos, força, espírito de sacrifício, motivação, persistência, esperança, coragem, talento e superação pessoal. São relatos vividos na primeira pessoa que devem ser divulgados, pois constituem uma fonte de inspiração, de aprendizagem e de conhecimento.
Infelizmente esses valorosos trajectos de vida e essas extraordinárias conquistas são completamente desconhecidas da esmagadora maioria da população.
Torna-se crucial sonorizar todos aqueles que representam o desporto paralímpico nacional, de modo a conhecer e a disseminar os percursos e os obstáculos adjacentes ao mesmo. Será que não devemos impulsionar o desporto paralímpico, bem como o atleta paralímpico nacional?
A discriminação e a ausência de caminhos palpáveis e profícuos, em relação aos alunos portadores de deficiência, acabam por não constituir uma matéria meramente específica das escolas, mas sim um conteúdo estrutural, transversal e conjuntural da sociedade. O desporto adaptado em Portugal ainda tem que percorrer um longo caminho para que seja verdadeiramente abrangente e inclusivo.
Será que o desporto convencional não hospeda uma competitividade encolerizada e excessivamente excludente? Será que não é pertinente e determinante perfilhar políticas públicas que evitem que o desporto adaptado, num curto espaço de tempo, seja apenas uma miragem? Será que a esmagadora maioria dos professores e dos treinadores está sensibilizada para as sinuosidades e finalidades que embrulham o desporto adaptado?
As pessoas com limitações físicas ou intelectuais também convivem com a falta de estruturas físicas adequadas à mobilidade nas cidades. Existem inúmeras cidades que não agasalham qualquer tipo de equipamento adequado para a mobilidade quotidiana de pessoas portadoras de deficiência. Logo, é certamente uma gigantesca perda de tempo pensar-se numa eficaz, eficiente e saudável prática desportiva. Será que o poder público e a iniciativa privada não devem unir esforços para que a inserção e o desenvolvimento do deficiente físico e intelectual, no seio do paradigma desportivo, sejam utopias exequíveis? Será que não é necessário um conjunto de políticas públicas que enfraqueça a marginalização imposta pela sociedade?
Será que não devemos consciencializar-nos de que a prática desportiva é um direito de todos?
Não obstante as várias participações portuguesas em jogos paralímpicos e as múltiplas medalhas conquistadas pelos atletas, as configurações que embrulham esta temática carecem de estruturação, de planeamento, de orçamento e de legislação específica. Será que compreender o desporto paralímpico português, no âmago de um prisma evolutivo, não é relevante?
Como se classifica a representação portuguesa nos jogos paralímpicos ao longo dos tempos? Onde estão os estudos nacionais sobre esta temática? Quem não os realizou e os devia ter realizado?
As pessoas com necessidades especiais, através da prática desportiva, têm uma magnífica oportunidade para aumentar o seu amor-próprio, mostrando à sociedade o seu valor como atletas e a sua importância como cidadãos. Será que damos valor aos contextos que realmente têm valor?
*Escritor e Técnico Superior na Divisão de Educação da Câmara Municipal da Guarda