11 May 2022, 0:00
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A exposição “Diáspora judaico-portuguesa”, organizada pela editora Chandeigne, que se dedica à literatura lusófona em França, está atualmente na biblioteca Marguerite Audoux, em Paris, e visa mostrar esta comunidade que participou ativamente na “modernidade” global.
“A partir do século XV, houve uma diáspora judia que foi para o mundo inteiro e que participou não só na expansão portuguesa, mas que foi uma rede mundial que participou na modernidade e que teve ligações em todo o globo”, explicou Anne Lima, Diretora da editora Chandeigne, em declarações à Lusa.
Após vários livros da coleção Péninsules, que trata sobre confrontos religiosos e civilizacionais, dedicados aos judeus de Portugal, Anne Lima considerou que era importante ressalvar “a especificidade do judaísmo português e da sua história” que não aparece nos dicionários de história do judaísmo publicados em França.
Assim, após mais de um ano e meio de pesquisa e redação, a exposição “Diáspora judaico-portuguesa: cristãos-novos, cripto-judeus, marranos e gente da Nação (séculos XV-XXI)” começou a circular em França tendo já estado presente em Rouen e em Nogent-sur-Marne, chegando este mês a Paris, à biblioteca Marguerite Audoux, no 3º bairro da capital francesa.
“A partir dos livros e da literatura podemos ir para outras maneiras de exprimir e esta é uma exposição itinerante que pode ir para todas as bibliotecas, câmaras municipais e mesmo museus. Da mesma maneira que fazemos também concertos ou outros eventos”, sublinhou a editora.
A exposição foi concebida pela historiadora Livia Parnes, especialista no percurso dos judeus em Portugal, e conta em 20 painéis didáticos como esta comunidade se dispersou pelo mundo e participou na fundação de cidades, contribuiu para a criação do comércio mundial e se destacou nos domínios da arte e da ciência, mantendo muitas vezes laços importantes com Portugal.
“É uma diáspora de pessoas que alguns são marranos, outros cripto-judeus, alguns cristãos novos ou novos judeus que voltam a converter-se, o que originou população diversas”, disse Anne Lima.
Além da exposição física, em que também há documentos e filmes que mostram as rotas percorridas pelos judeus portugueses, foi ainda criado um site onde há mais informação sobre este tema e onde os visitantes podem consultar artigos académicos sobre estas comunidades.
De forma a realizar a exposição foram contactados os arquivos de museus como o Jewish Museum, em Londres, o Museu de Amesterdão ou o Musée d’Art et d’Histoire du Judaïsme, de Paris.
A editora Chandeigne espera agora que a exposição continue a circular, tendo já marcada presença em junho na Mairie do 3º bairro de Paris, indo depois em setembro para a Casa de Portugal, na Cidade Internacional Universitária de Paris, no fim do ano vai para Bordeaux, mas já recebeu também convites para ir até ao Brasil e Itália, assim como Portugal, estando à procura de fundos para apoiar a tradução já que está atualmente em francês.
Em França, esta exposição contou com o apoio da Fundação Rothschild-Institut Alain de Rothschild e a região de Île-de-France e foi desenvolvida em parceria com a Aliança Israelita Universal de Paris.
Se os judeus de Espanha foram expulsos em 1492, os de Portugal foram convertidos à força em 1497. Para estes "cristãos-novos" iniciou-se então um longo período de emigração que só se intensificaria com a instauração da Inquisição portuguesa em 1536. Estas vicissitudes nascimento da diáspora judaico-portuguesa.
Os mais ricos saem para praticar o judaísmo mais ou menos livremente e embarcam nas novas rotas comerciais em expansão. Do século XVI ao XVIII , eles participaram das profundas convulsões socioeconômicas, religiosas e intelectuais que levaram o Ocidente à modernidade. Às vezes sólidas, às vezes precárias, suas redes familiares, comerciais e financeiras são implantadas em escala planetária.
As situações individuais dessa diáspora são complexas, tanto que, na mesma família, cristãos sinceros convivem com aqueles que retornam abertamente à fé ancestral e os cripto-judeus, ou marranos, que praticam secretamente o judaísmo. Aspirações messiânicas ou um espírito crítico e ideias de tolerância os impulsionam de diferentes maneiras.
Apesar da dispersão geográfica e religiosa, mantém-se uma certa coesão através da linguagem, literatura, liturgia, arquitetura, apelidos ou arte funerária. Embora composta, essa diáspora engendra uma forma inédita de pertencimento coletivo, designada pelo termo A Nação.