26 Jan 2022, 0:00
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O embaixador de Portugal em Ouagadougou, Vítor Sereno, disse hoje à Lusa que os cidadãos portugueses residentes no Burkina Faso, país que foi palco de um golpe militar na passada segunda-feira, "estão bem".
“São cinco portugueses residentes e a embaixada contactou-os todos. Estão bem”, salientou Vítor Sereno, embaixador no Senegal, mas que assegura também a representação portuguesa no Burkina Faso.
Os militares que iniciaram no domingo um golpe de Estado no Burkina Faso confirmaram na segunda-feira, também numa declaração na televisão estatal, que tomaram o poder e anunciaram a dissolução do Governo e do parlamento.
O Presidente Roch Marc Christian Kaboré foi derrubado por um corpo militar liderado pelo tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, que lidera agora o chamado Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração (MPSR).
O Presidente destituído do Burkina Faso mantém-se sob custódia do exército, mas “está fisicamente bem”, informou um elemento do seu partido hoje, dois dias após o golpe militar que o derrubou, condenado pela comunidade internacional.
Ele está “ainda nas mãos do exército”, “numa residência presidencial em prisão domiciliária”, segundo a fonte do seu partido, Movimento Popular para o Progresso (MPP), em declarações à agência France-Presse (AFP).
A fonte, que a agência de notícias francesa não identifica, acrescentou que Kaboré “está fisicamente bem” e tem “um médico à sua disposição”.
O MPSR começou por anunciar a dissolução ou suspensão das instituições da República, bem como o encerramento das fronteiras aéreas do Burkina Faso, mas estas foram reabertas logo na terça-feira, tal como as fronteiras terrestres para certos produtos, o que parece indicar que a junta militar no poder não tem medo de um “contra-ataque” e está a controlar os vários corpos do exército.
O golpe no Burkina Faso, que sucede aos golpes no Mali e na Guiné-Conacri, foi condenado pela comunidade internacional, que exige a “libertação imediata” do Presidente derrubado.
O alto representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, advertiu hoje que “se a ordem constitucional não for restaurada”, haverá “consequências imediatas na parceria [europeia] com o país”.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) deverá realizar uma “cimeira extraordinária” nos próximos dias, que pode resultar na imposição de sanções ao país.
União Africana e ONU condenaram igualmente o golpe de Estado. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que “os golpes militares são inaceitáveis”.
A única voz dissidente veio de Moscovo, onde o empresário Yevgeny Prigozhin, próximo de Vladimir Putin e líder do grupo paramilitar Wagner, presente em vários países africanos, saudou o golpe como sinal de uma “nova era de descolonização” em África.
O Presidente Kaboré, no poder desde 2015 e reeleito em 2020 com a promessa de colocar um ponto final no aumento dos ataques jihadistas no país, vinha a ser cada vez mais contestado por uma população atormentada pela violência de vários grupos extremistas islâmicos e pela incapacidade das forças armadas do Burkina Faso responderem ao problema da insegurança.