12 Jul 2022, 0:00
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Por Gustavo Pires *
Para além do empenho dos atletas, da competência dos treinadores e da liderança da missão, do ponto de vista das políticas públicas, no que diz respeito à participação portuguesa nos Jogos do Mediterrâneo (2022), há questões a levantar que têm a ver com uma parcimoniosa e competente utilização dos dinheiros públicos uma vez que, se por um lado, Portugal apresenta uma taxa de pobreza e exclusão social entre os jovens dos 12 aos 24 anos de idade que ultrapassa os 30%, por outro lado, os portugueses continuam à espera das 5 medalhas olímpicas prometidas pela inteligência desportiva nacional para o Jogos Olímpicos (JO) de Pequim (2008) e não é com a participação neste tipo de eventos que, algum dia, se cumpre o septuagésimo nono constitucional e as medalhas em falta vão ser conseguidas.
Por isso, quando acontece que o desporto escolar não cumpre minimamente a sua função social e mais de 340 mil jovens portugueses são, todos os anos, descartados da prática desportiva federada a pergunta que se impõe é a seguinte: Quais foram os critérios políticos e desportivos que levaram Portugal a estar representado por 159 atletas nos Jogos do Mediterrâneo (2022) que se realizaram na cidade argelina de Orã?
Tratando-se os Jogos do Mediterrâneo de uma competição de terceira ou quarta categoria, Portugal para ficar em 9º lugar com 25 medalhas fez incluir na missão sete atletas olímpicos que ganharam 8 medalhas. Sem estas oito medalhas Portugal passaria para 14º lugar atrás de países como a Sérvia, a Grécia, a Tunísia, a Eslovénia, a Croácia e Chipre um país que nem medalhas conseguiu nos JO de Tóquio (2021). Acresce que, mesmo incluindo atletas olímpicos, Portugal obteve uma performance de 6,4 atletas por medalha pelo que ficou em 15º lugar atrás de países como a Síria com 3,7 atletas por medalha e Marrocos com 3,8 atletas por medalha.
Perante o terceiro pior índice de prática desportiva da União Europeia por um lado e, por outro lado, as fraquíssimas performances das Missões Olímpicas portuguesas, recomendo ao Sr. Secretário de Estado da Juventude e Desporto que, na linha das sugestões dos documentos da PwC, mande apurar os objetivos, os critérios e o alinhamento estratégico que enquadraram não só participação de 159 atletas nos Jogos do Mediterrâneo, bem como das demais participações internacionais no âmbito do Comité Olímpico de Portugal (COP) incluindo os JO uma vez que são muitos milhões de euros do erário público que estão em jogo. E para bem aquilatar a dimensão e profundidade desta questão até lhe sugiro a leitura dos dois últimos relatórios das Missões Olímpicas (Rio e Tóquio).
Claro que não acredito que o Sr. Secretário de Estado algum dia se permita incomodar a veneranda figura do presidente do COP com tão impertinentes questões, todavia, os contribuintes que, em última análise, pagam este tipo de aventuras mediterrânicas têm, pelo menos, o direito de saber se tais delegações desportivas não passam de mero turismo desportivo.
*Professor jubilado da Faculdade de Motricidade Humana