2 Jun 2022, 0:00
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A 75.ª edição do Festival de Cannes fica marcada na história do cinema português com a conquista do Prémio Descoberta, da Semana da Crítica, para a melhor curta-metragem pela animação “Ice Merchants”, de João Gonzalez. Foi uma das dez curtas-metragens em competição numa das mais importantes secções competitivas paralelas do certame francês, sendo o primeiro filme português de animação a integrar a seleção e a vencer.
João Gonzalez nasceu no Porto, em 1996. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, terminou a licenciatura na Escola Superior de Media Artes e Design (ESMAD) do Politécnico do Porto, concluindo o mestrado no Royal College of Art (Reino Unido). Depois de duas primeiras experiências na animação – “Nestor” e “The Voyager” –, produzidas no quadro escolar dessas instituições, "Ice Merchants" é a sua primeira obra profissional a ser premiada, com produção de Bruno Caetano para a COLA - Coletivo Audiovisual e financiamento também de França e do Reino Unido, contando também com o apoio do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA).
“Algo que sempre me fascinou no cinema de animação é a liberdade que nos oferece para criar algo do zero, de raiz. Cenários e realidades surrealistas e bizarras que podem ser usadas como instrumento de metáfora para falar sobre algo que nos é comum na nossa realidade mais ‘real’”, confessou, recentemente, João Gonzalez à agência Lusa.
“Ice Merchants” fala sobre um homem e o seu filho, que saltam de paraquedas todos os dias, da sua casa, instalada numa montanha, debruçada num precipício, para vender gelo, que produzem e vendem na aldeia mais próxima, no sopé da montanha.
“É um filme que tenta estudar os rituais humanos, as coisas pequeninas da vida, sendo uma base importante no relacionamento entre seres humanos”, explicou o realizador português.
A banda sonora, que começou a ser desenvolvida numa fase inicial da animação, foi composta e interpretada por João Gonzalez, com a participação de um grupo de músicos da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) do Porto e com orquestração de Nuno Lobo.
Destaque, na lista de premiados da 75.ª edição do Festival de Cannes, para "Triangle of Sadness", de Ruben Ostlund, que conquistou a Palma de Ouro, e "Close", de Lukas Dhont, e "Stars at Noon", de Claire Denis, que venceram ex-aequo o Grande Prémio, a segunda distinção mais prestigiada do certame francês.