Luzes Inquietas

Por Alexandre Gonçalves*

A arte não dispensa as etapas de planificação, realização e avaliação do trabalho, bem como as estratégias de captação de recursos, tomada de decisões difíceis, acções de comunicação, prestação de contas e análise dos impactos sociais. A arte necessita de um processo de aperfeiçoamento pertinaz que felizmente está fora do imediatismo comercial e somente conquista resultados de sublimidade ao fim de um longo período de tempo.

As Oficinas de Escrita, de Teatro, de Estimulação Cognitiva e de Expressão Dramática, sendo um verdadeiro estímulo à acção cultural compreendida como processo, ajudam-nos a cumprir a nossa identidade e a fugir à escravatura contemporânea. São espaços de conhecimento que perfilham o equilíbrio, protegem as nossas memórias, facilitam o diálogo, despertam a reflexão e abraçam a imaginação. Os trabalhos germinam da inquietude, do desassossego, do conhecimento, da meditação, da capacidade de criar e do genuíno “sentimento de pertença”. As Oficinas melhoram a qualidade de vida dos participantes, ficando, os mesmos, certamente melhor preparados para novos reptos. Na realidade, e no âmago das Oficinas, respiramos, compreendemos, meditamos, acreditamos, crescemos, bebemos erudição, soltamos o riso e o grito, abandonamos o açaime e erigimos o nosso interior.

Os espaços de cultura têm forçosamente de estar atentos às metamorfoses sociais, às necessidades colectivas e às novas manifestações culturais. As Oficinas fomentam a aprendizagem, fortalecem os vínculos sociais, promovem a criatividade e estrangulam o hiato cultural entre os grupos sociais, discriminando, sucessivamente, as configurações imaleáveis e obscenas intrínsecas às prescrições do mercado de consumo. A cultura de massa, apenas com a finalidade do consumo e do lucro, não se identifica com as Oficinas. Ainda bem que assim é!

As Oficinas estimulam as capacidades criativas individuais e colectivas dos participantes, as competências pessoais e de interacção em grupo, sendo potenciadoras de novas experiências emocionais e artísticas. São espaços libertadores de sentimentos e de reminiscências que combatem a “sociedade descartável” que teima em amamentar a trivialidade, a aparência, os chavões e os estereótipos.

É seguramente importante impulsionar a inclusão social de todos, assim como melhorar a qualidade de vida das pessoas e dos grupos através de práticas artísticas. Um território verdadeiramente inclusivo e educador tem um conjunto de iniciativas de intervenção social, através da arte, junto de crianças e jovens, reclusos, pessoas portadoras de deficiência e cidadãos com problemas de saúde mental. A inclusão, a reflexão, o pensamento crítico, a valorização da diversidade cultural, o aperfeiçoamento das capacidades cognitivas e sociais, a ligação à literacia, a amputação dos preconceitos e a diminuição da discriminação em relação às pessoas mais vulneráveis constituem condições que devem ser permanentemente avigoradas. A cultura também deve ter o papel de organizar as práticas pedagógicas. É relevante conceber novos artistas.

Tenho a certeza, por experiência própria, que somente os projectos de continuidade conseguem edificar valorosos e distintos contributos para os territórios. Na verdade, as actividades, ligadas à escrita, leitura e teatro, que muitas vezes se realizam nas escolas devem transformar-se em autênticos e abrangentes projectos, ou seja, com sessões semanais e durante um longo período de tempo. É seguramente importante que os jovens sejam identificados e perfilhados como protagonistas.

Existem criativos em todos os Concelhos, alguns deles são funcionários das Câmaras Municipais, que estão completamente preparados para concretizar este tipo de projectos. Os projectos devem ter lugar nas escolas, assim como em outras instituições, por exemplo lares de idosos. A educação, como sabemos, não está circunscrita às escolas. É fundamental combater o insucesso escolar, e promover as tão apregoadas inclusão e literacia.

Nas Oficinas, viajamos, corremos, saltamos, rimos, aplaudimos, caímos, levantamo-nos e trabalhamos. Aquilo que realmente é importante neste tipo de projectos é o processo. Por exemplo, os livros individuais e colectivos, ou as peças de teatro, fruto das Oficinas de Escrita e de Teatro, permitem aos autores descobrir a escrita e a representação como formas de ver o mundo, de se ver no mundo, de se perceber, de compreender o outro, de compreender a sua relação com o outro, de se respeitar e de respeitar o outro. A escrita e a representação são mecanismos que facilitam e proporcionam o entendimento dos espaços, aceitando as diferentes ideias, sonhos, propósitos, “paladares” e interpretações do mundo. Será que a escrita e o teatro, em determinadas ocasiões, não apresentam uma imagem ou um reflexo da sociedade que a própria sociedade se nega a aceitar?

 
*Escritor e Técnico Superior na Divisão de Educação da Câmara Municipal da Guarda 

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