Marcelo mantém Governo "a bem da estabilidade", mas promete fiscalização redobrada

Costa esteve reunido com Marcelo, após o primeiro-ministro ter falado com João Galamba e depois com o núcleo duro do Governo. Ministro pede demissão, mas Costa recusa. Marcelo "discorda".

"A bem da estabilidade" e porque "os portugueses não desejam "esses sobressaltos", Marcelo Rebelo de Sousa não avança para a dissolução do Parlamento, embora assuma "divergências de fundo" com o Governo de António Costa, desde logo, pela manutenção de João Galamba como ministro das Infraestruturas.

A divisão entre "passado" e "futuro" do discurso do Presidente da República foi assumida pelo próprio logo nos primeiros segundos da mensagem ao país. Eram 20h02 quando Marcelo Rebelo de Sousa arrancou com os avisos: o poder político tem de fazer "mais e melhor", a autoridade para existir "tem de ser responsável" e responsabilidade "é mais do que pedir desculpa".

"E agora a palavra sobre o futuro." Eram 20h07, Marcelo Rebelo de Sousa já tinha dito, em Belém, em direto para o país e numa parte do discurso a que chamou "passado", tudo o que via de errado no caso Galamba. Preparava-se, a partir daí, para desfazer as dúvidas: faria cair o Governo, dissolveria a Assembleia da República? Ou nada faria?

"O Presidente da República poderia, e não o fez e é pena, ter chamado os partidos a Belém, porque indo a Belém, o que o Livre diria é que há um plano para sair desta crise e que este plano passa pelo parlamento", afirmou Rui Tavares.

A líder do PAN, Inês Sousa Real, considerou que Marcelo deveria ter ido "mais além" de modo a garantir "que havia uma reforma no Governo".

"O que Portugal e o país precisam é que sejam feitas as reformas estruturais e haja responsabilidade, compromisso e sentido de bem comum que claramente não houve neste episódio e não tem havido nos últimos meses que têm levado, pela mão da maioria absoluta, a uma situação de elevada conturbação política", defendeu a porta-voz do PAN.

O PCP pediu ao Presidente da República e ao Governo que se concentrem na resolução dos problemas da população e considerou "lamentável toda a sucessão de casos" que tem envolvido o executivo.

Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, apelou a que, numa altura em que, "no plano económico e social, se avolumam problemas" e se assiste a "um conjunto de episódios lamentáveis que envolvem membros do Governo", não se desviem "as atenções daquilo que é central e crucial".

"Aquilo que os trabalhadores, os reformados, o povo reclama são respostas para os problemas com os quais estão confrontados: os salários e as pensões não chegam até ao fim do mês, há dificuldades na habitação, no acesso à saúde, para colocar comida todos os dias na mesa", disse.

Paula Santos defendeu que o Presidente da República e o Governo devem estar "concentrados na resposta a estes problemas", pedindo que "não se aproveitem os problemas para evitar as soluções que são necessárias".

A Iniciativa Liberal defendeu que o Presidente da República "amarrou a avaliação do seu mandato" aos próximos meses de governação do primeiro-ministro, considerando que os dois são agora corresponsáveis pelo que acontecer "nos próximos tempos".

"O primeiro-ministro amarrou o seu destino político a João Galamba, o Presidente da República amarrou a avaliação deste seu mandato aos próximos tempos de governação de António Costa", defendeu o presidente da IL, Rui Rocha, no parlamento, em reação à comunicação ao país de Marcelo Rebelo de Sousa.

A partir de agora, continuou, "são ambos -- Presidente da República e primeiro-ministro - corresponsáveis por tudo o que vier a acontecer nos próximos tempos do ponto de vista da solução governativa".

O líder liberal afirmou que o chefe de Estado português fez uma avaliação da governação de Costa "absolutamente arrasadora", tendo colocado em causa "a credibilidade, a autoridade, a respeitabilidade da solução governativa".

O líder parlamentar do Chega considerou que o Presidente da República deveria ter tido a "coragem política" para dissolver o parlamento e convocar eleições, defendendo que o Governo está "em farrapos" e o país "precisa de estabilidade".

Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, após a declaração de Marcelo Rebelo de Sousa ao país, Pedro Pinto afirmou que o Governo está "em farrapos, partido aos bocados", e "não dá credibilidade ao país".

O líder parlamentar do Chega considerou que "este não é um Governo estável", contrapondo que "Portugal precisa de estabilidade, não há dúvida, mas a estabilidade tem de vir com eleições".

"Achamos que o Presidente da República devia ter ido mais além, devia ter terminado hoje mesmo com este Governo porque falou em estabilidade, mas que estabilidade é que têm os portugueses quando estão com dificuldades todos os dias de meter a comida na mesa, de pagar a renda de casa, de pagar o seu carro?", questionou o deputado do Chega.

O PS informou esta noite que afinal não vai reagir à declaração de Marcelo Rebelo de Sousa ao país.

O secretário-geral do PSD, Hugo Soares, sublinhou que o partido se revê "na leitura" do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e não tem dúvidas de que o Governo, ao não assumir a sua responsabilidade, perde confiança.

"O Governo fragilizou-se na sua autoridade e credibilidade. Respeitamos as conclusões a que o Presidente da República chegou e dizemos que é necessário um reforço da vigilância sobre este Governo. É muito importante que os portugueses saibam que se o calendário eleitoral vier a ser antecipado em Portugal, ou seja, se houver instabilidade política por força de eleições antecipadas, essa instabilidade, deve-se única e exclusivamente ao primeiro-ministro e ao Governo", explicou Hugo Soares, em reação à declaração de Marcelo ao país.

Para o PSD, a mensagem de Marcelo não foi um recado, mas sim uma "mensagem muito clara" ao país e ao Governo.

"O Governo está diminuído na sua autoridade e credibilidade, não assumiu responsabilidade e, por isso, perdeu confiabilidade. E o Presidente da República diz que vai reforçar a vigilância sobre o Governo e o primeiro-ministro. Se houver eleições em Portugal, a responsabilidade única e exclusiva é do primeiro-ministro e do Governo", avisou o secretário-geral do PSD.

Marcelo Rebelo de Sousa garante que “vai tirar já conclusões”, embora mantenha o Governo a bem da “estabilidade”, já que “os portugueses não desejam esses sobressaltos e esses compassos de espera”, apesar do que "se vai dizendo".

“Os portugueses querem ver os problemas do dia-a-dia resolvidos”, atira.

O Presidente da República sublinha que com ele “não contam” para fraturas, muito menos para “enfraquecer o papel presidencial”. Marcelo acrescenta que “não tem vontade de criar mais problemas aos que já existem” e lembra que se coordenou sete anos com Governos à esquerda, embora seja da família política da direita.

A segunda conclusão do Presidente tem a ver com “a responsabilidade” dos ministros, pelo que “estará mais atento e interveniente no dia-a-dia” para que não tenha de assumir “outros poderes de que não abdico”, numa referência à dissolução do Parlamento.

“São estas as lições para o Presidente, numa altura em que as responsabilidades governativas não foram assumidas, como deveriam ter sido”, aponta.

Marcelo apela “aos que governam” para que “cuidem mesmo da credibilidade”, poupando “aquilo que ninguém deseja, a começar por mim”. Já que “aí chegados, já será tarde”.

E, mais uma vez, o Presidente defende que a responsabilidade política "não foi assumida, como devia ter sido".

“Espero poder contar com a sensatez de todos. E, claro está, conto sempre a experiência, prudência e sabedoria do povo português”, conclui.

 

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