6 Jan 2022, 0:00
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OPINIÃO
Por Joaquim Jorge *
Tenho medo de morrer, tenho medo de sofrer, tenho medo da exaustão e tenho medo da ideia que passa que isto nunca mais acaba. Eu tenho medo que as pessoas interiorizem que esta pandemia é irresolúvel.
O meu maior gosto para 2022, seria que esta pandemia acabasse, ou pelo menos se tornasse aceitável como a gripe ou outras doenças.
Esta pandemia foi uma pancada nunca vista nas nossas vidas, reduziu-nos à dimensão do que sempre fomos: não contamos para nada e somos pin ups neste Mundo.
Nós todos temos que ser a resistência contra esta ocupação vírica. A vitória não chegará num dia, numa semana, num mês, num ano, mas em bastante tempo.
A distância social de agora vai-nos converter no futuro para pessoas menos comunicativas e menos sociáveis. Tudo terá que ser pensado com a distância de dois metros ou mais.
A nossa sociedade, com a crise económica de 2008 tornou-nos mais egoístas, mas esta crise viral vai-nos tornar mais desconfiados.
Nesta hora de tragédia colectiva não é oportuno apontar responsabilidades, mas no futuro é preciso repensar o nosso SNS e dotá-lo de meios para o tornar mais eficiente e capaz de responder em momentos como este.
A ideia que o vírus continua a circular mete-me medo, isso acontece há dois anos e não há forma de o controlar. Como dizem que a variante Ómicron causa metade dos casos graves, mas propaga-se o dobro, o SNS vai continuar a colapsar e isso significa mortes.
Tenho medo das consequências que o nosso isolamento em casa, tenho me apercebido de reacções esquisitas e anormais de gente civilizada.
Tenho medo das consequências que foi a esperança das vacinas, e agora, a recaída com a variante Ómicron. Estes altos e baixos vão fazer mossa: a seguir à euforia, o desalento.
Tenho medo do consequente desgaste psicológico que dura há bastante algum tempo nos faça desmoralizar, por exaustão.
É um momento de colossal esforço colectivo que tem por finalidade proteger a vida e a saúde de todos.
Não podemos baixar os braços nem relaxar em demasia temos que ser fortes, estar atentos e informados.
Portugal transformou-se há bastante tempo num hospital, toda a gente fala do coronavírus, uns com alguma sabedoria, outros nem tão e aqueloutros tecem considerações mirabolantes.
O meu medo é que Portugal se transforme num hospital psiquiátrico.
*Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores