26 Dec 2023, 0:00
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Na segunda-feira, 25 de dezembro, António Costa dirigiu a tradicional mensagem de Natal do Primeiro-Ministro aos portugueses.
Naquela que foi a última mensagem de Natal de António Costa como primeiro-ministro, chefe do executivo alertou que o país não pode parar e elogia os resultados alcançados no crescimento da economia, no aumento do emprego e na redução da dívida. Os partidos de esquerda lamentam que António Costa não tenha falado da saúde e da habitação. A direita diz que foi um discurso de propaganda, distante da realidade do país, noticia a RTP.
Do lado do PSD, foi o vice-presidente, Paulo Rangel, a vir criticar as palavras de Costa, afirmando que a confiança e esperança dos portugueses no futuro e nas instituições "só pode ser retomada com uma alternativa" e afastando "os socialistas do poder".
Numa reação à nona e última mensagem de Natal do primeiro-ministro, Paulo Rangel afirmou que, à semelhança de António Costa, também o PSD confia nos portugueses, mas que a confiança dos portugueses no futuro "só pode ser retomada com uma alternativa".
"Com maioria absoluta, ao longo de um ano desbarataram a credibilidade do Governo e das instituições", destacou Paulo Rangel, criticando o balanço da atividade governativa feito pelo primeiro-ministro. A par da educação, o vice-presidente do PSD criticou também as contas certas, e criticou a falta de "uma palavra" para os profissionais de saúde, mas também para os sem-abrigo e para os que se confrontam com a crise na habitação.
Já o PS prometeu continuar “o legado” de oito anos de governo de António Costa, falou de coesão nacional e qualificou de “maledicência” as reações da oposição.
Foi uma “mensagem de grande lucidez, mas também de grande esperança no futuro” e o que o PS “se propõe é continuar este trabalho, de continuar a desenvolver este legado”, disse à agência Lusa o vice-presidente da bancada socialista João Torres.
E, em resposta à oposição, João Torres afirmou: “Ao longo do último ano e meio, [a oposição] está hoje especializada na maledicência".
O presidente do Chega considerou que a mensagem falhou ao não abordar temas como a crise das instituições, a justiça e a saúde, acusando António Costa de não assumir as suas responsabilidades.
"É um primeiro-ministro que consegue na sua última mensagem falhar os dois tópicos principais que era importante tratar hoje e a olhar para o futuro: a crise das instituições e a confiança na justiça, que levou ao fim do seu Governo, e o profundíssimo sistema degradado em que a nossa saúde se encontra hoje", considerou André Ventura.
André Ventura acusou o primeiro-ministro demissionário de uma "profunda incapacidade de fazer um exercício de auto responsabilidade, um juízo crítico de auto responsabilização".
Na opinião do líder do Chega, "António Costa falhou em toda a linha ao não conseguir dar aos portugueses a tranquilidade que o país precisava numa noite de Natal", acusando o PS e o primeiro-ministro de viverem "numa realidade paralela completamente diferente da maioria dos portugueses".
O presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, afirmou que o primeiro-ministro, na mensagem de Natal aos portugueses, esteve “igual a si próprio”, fazendo propaganda a si e ao Governo mas esquecendo o que aflige a população.
António Costa, na mensagem difundida esta noite, não falou do essencial, como as questões ligadas à crise na habitação, aos baixos rendimentos, a “uma classe média absolutamente asfixiada por rendimentos baixos e impostos altos”, à degradação das instituições e à degradação dos serviços públicos, como a saúde, educação, transportes e justiça, disse Rui Rocha.
“Sobre estes pontos que são fundamentais para os portugueses não houve uma única palavra de António Costa, que se limitou a fazer um autoelogio, que é aquilo que tem feito sempre ao longo destes oito anos”, adiantou Rui Rocha à Lusa quando questionado sobre que leitura fazia da intervenção do primeiro-ministro.
O CDS-PP considerou que o primeiro-ministro tentou justificar na sua mensagem de Natal o "caos da governação socialista que culminou na demissão do Governo e na atual crise política” da sua “inteira responsabilidade”.
“Ouvimos um primeiro-ministro que pertence ao passado, que se demitiu por causa de investigações criminais graves e que liderou um dos mais incompetentes e instáveis governos da história da democracia portuguesa”, afirmou o partido liderado por Nuno Melo, num comunicado assinado pelo vice-presidente Paulo Núncio.
Na reação, o CDS-PP acusou os socialistas de deixarem “o país mais empobrecido em termos europeus, com a pobreza em Portugal a atingir níveis absolutamente inaceitáveis e com o número dos sem-abrigo a bater recordes todos os dias, o que é particularmente chocante na época de Natal que estamos a atravessar”.
Já a eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias afirmou que a mensagem de Natal ficou marcada pela ausência de qualquer referência aos problemas que as pessoas enfrentam, nomeadamente na habitação e na saúde.
“Nesta última mensagem de Natal, o primeiro-ministro não fez nenhuma referência aos problemas que as pessoas enfrentam em Portugal, problemas que foram agravados com a maioria absoluta, apesar de ter tido todas as condições políticas e recursos extraordinários”, afirmou Marisa Matias, numa reação na sede do Bloco de Esquerda de Coimbra à última mensagem de Natal de António Costa enquanto primeiro-ministro.
Para a eurodeputada bloquista, a maioria absoluta “foi um tempo intranquilo”, não marcado apenas pelo “rodopio de ministros”, mas também por um “sobressalto permanente” na vida das pessoas, com a crise da habitação e os problemas sentidos no Serviço Nacional de Saúde.
O PCP considerou que a mensagem de Natal do primeiro-ministro, "não bate certo com a vida das pessoas", salientando a ausência de menção a problemas como o custo de vida, saúde, educação e habitação.
"O senhor primeiro-ministro faz uma declaração que não bate certo com a vida das pessoas. Fala das contas certas, mas não fala do desacerto das contas da vida das pessoas, do salário e da pensão que não chega para enfrentar o custo de vida, que aumentou significativamente nos últimos tempos", começou por dizer hoje, aos jornalistas, no Porto, o dirigente comunista Jaime Toga.
O membro da Comissão Política do Comité Central do PCP frisou ainda que António Costa não fala, por exemplo, dos problemas da escola pública, do Serviço Nacional de Saúde e das dificuldades financeiras dos portugueses.
A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, defendeu hoje que a mensagem de Natal do primeiro-ministro “esquece o país real” e considerou uma perda de tempo debates sobre coligações à esquerda ou à direita.
“As palavras de António Costa esquecem o país real, porque as contas certas têm que ser contas certas em primeiro lugar com as famílias, e num país em que temos mais de 10 mil pessoas em situação de sem-abrigo e quatro milhões de pessoas a viver em situação de pobreza se não fossem os apoios sociais, existe claramente aqui um défice de um país em que António Costa não tem conseguido promover o desenvolvimento social”, considerou a dirigente.
Para o PAN, a maioria absoluta do primeiro-ministro demissionário “foi uma oportunidade perdida e desperdiçada”.
O porta-voz do Livre, Rui Tavares, lamentou que o primeiro-ministro tivesse dedicado a sua última mensagem de Natal à confiança nos portugueses, quando não os envolveu nas grandes decisões da sua governação.
“Foi uma mensagem dedicada à questão da confiança nos portugueses, mas vale a pena perguntar onde esteve essa confiança durante estes oito anos. Não houve envolvimento das populações em geral nas grandes decisões estruturantes para o futuro do país”, afirmou o deputado único do Livre na Assembleia da República.
“Se em Sines a população tivesse sido ouvida acerca dos terrenos a proteger e dos que podem ser utilizados para propósitos industriais, provavelmente não teríamos tido essas decisões divididas entre governantes e facilitadores e o Governo não teria caído”, exemplificou Rui Tavares, em declarações à RTP3.