Metro do Porto assinala "momento histórico" ao 'furar' primeiro túnel em dez anos

Vila Nova de Gaia assistiu hoje ao primeiro 'furo' de um túnel da Metro do Porto em 10 anos, um "momento histórico" em que os trabalhadores dos dois lados se saudaram sob uma inédita luz do dia.

A uma profundidade de 23 metros e num 'buraco' com diâmetro de 42 metros onde está a ser construída a futura estação de Manuel Leão, em Vila Nova de Gaia, assistiu-se ao derrube dos dois metros de maciço rochoso que faltavam para unir as duas pontas do túnel com a luz do dia.
A obra, um túnel de 160 metros que ligará o viaduto de Santo Ovídio à estação Manuel Leão, faz parte da extensão da linha Amarela (D) do metro até Vila d'Este, em Vila Nova de Gaia. Atualmente, o serviço efetua-se entre o Hospital São João, no Porto, e Santo Ovídio, em Vila Nova de Gaia.
"É um momento histórico. Em dez anos é a primeira vez que nós fazemos o varamento de um túnel. Estamos a falar da primeira secção do túnel que vai ligar a estação de Santo Ovídio, com o viaduto, até à estação do Hospital Santos Silva", explicou à Lusa o presidente da Metro do Porto, Tiago Braga.
Pelo meio ficará a estação subterrânea de Manuel Leão, que contará com três pisos enterrados e um anfiteatro à superfície.
Perante uma parede cinzenta que no futuro será também 'perfurada' pelos veículos do metro rumo à estação, dezenas de responsáveis e de trabalhadores aguardavam pelo derrube que se efetuava do outro lado, enquanto se ouviam vários 'toques' na parede, anunciando o furo iminente.
Foi às 10:27 que uma máquina vinda do lado de Santo Ovídio confirmou as expectativas dos presentes, ficando visível a sua grande ponta metálica, que qual bico de pássaro ia derrubando o que restava da 'casca de ovo', uma agora frágil rocha reduzida a pó.
Dez minutos depois, já uma retroescavadora movia as terras no sítio onde anteriormente havia um muro, abrindo caminho a que os trabalhadores de um lado e de outro se encontrassem pela primeira vez no túnel, agora aberto, pelas 11:00.
Pedro Quintas, gestor do projeto em curso na linha Amarela, disse à Lusa, sorridente, que em obras deste tipo "é sempre um marco muito importante quando conseguimos ver a luz ao fundo do túnel".
"Finalmente vemos isto a ser concretizado e com toda a satisfação para os trabalhadores que aqui estão", reforçou, salientando que o momento vivido hoje é "mais um momento de motivação para continuar o trabalho com segurança e afinco".
As saudações entre os trabalhadores dos dois lados da 'barricada' foram sendo feitas tanto em português como em castelhano, fruto do consórcio Ferrovial (empresa espanhola) e ACA (portuguesa) envolvido na empreitada.
"Daí termos várias nacionalidades, essencialmente portuguesa e espanhola, para além de outras nacionalidades. Mas sim, nota-se este cunho ibérico na construção deste túnel", explicou Pedro Quintas.
Fica agora a faltar o outro túnel mais longo da secção sul entre Santo Ovídio e o Hospital Santos Silva, com quase um quilómetro, prevendo-se "que até ao final do ano fique concluído em termos de escavação", segundo Pedro Quintas.
Mais a norte, para completar a ligação à estação de Santo Ovídio, que Tiago Braga pretende ver em funcionamento no início de 2024, será ainda necessária a ligação através de um viaduto, atualmente em construção.
"Os pilares já estão a ser construídos, como é possível verificar a partir de Santo Ovídio. Nós vamos começar a instalar as secções do viaduto com o método que foi entretanto desenvolvido a partir do mês de junho/julho", adiantou à Lusa.
Precisamente sobre o futuro, o presidente da Metro do Porto, Tiago Braga, admitiu que o aumento das matérias-primas e materiais de construção "é uma matéria que vai preocupando todos os dias".
"É mais um desafio que nós temos que vencer e atravessar e estão a ser criadas as condições, naturalmente com o Governo a gerir toda a estratégia que resulta desse aumento inusitado dos preços", sustentou.
Questionado sobre a possibilidade de haver revisões de preços suplementares às previstas para este ano no âmbito do regime excecional recentemente aprovado, Tiago Braga disse que "essa é uma matéria que está a ser discutida", mas que não compete às empresas.
"Acompanhamos diariamente, fazemos projeções relativamente àquilo que é a arquitetura financeira dos projetos, estão a ser calculadas todas as questões", revelou, mas vincou a importância de se olhar para os projetos "de forma integrada" e cumprindo os prazos.

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