15 Nov 2022, 0:00
259
Devido a este caso insólito, Tribunal ordenou já que fosse criado um acesso livre de 90 centímetros para a moradora entrar, mas nada foi feito.
Arminda Teixeira, 68 anos, diz estar desesperada. Para entrar na casa onde vive há cerca de 60 anos tem de atravessar uma loja de conveniência. A situação acontece há alguns anos num edifício na Praça Carlos Alberto, no Porto.
Arminda Teixeira abre a porta do prédio, rente a um ATM, e não dá para acreditar: "É esta a entrada para a sua casa?". A moradora da Praça Carlos Alberto, na Baixa do Porto, confirma que sim e vai pela loja fora, entre bebidas alcoólicas, produtos alimentares e outros artigos, até à zona de acesso às traseiras do edifício, onde vive há mais de 60 anos. O proprietário do imóvel prefere não comentar e a Câmara do Porto esclarece que a loja está licenciada.
"Isto não é um estabelecimento, é a entrada de um prédio. Se estiverem aqui pessoas a comprar, eu não passo, e já aconteceu estarem mais de 30. Era tanta gente, que nem se via o chão. Tinha de esperar para entrar em casa", conta Arminda, no meio do corredor convertido em loja: balcão de um lado e parede oposta transformada em expositor.
"Tenho quase 70 anos, e tiraram-me anos de vida com isto", lamenta-se a moradora, enquanto exibe fotografias de quando a loja, ali instalada "há uns sete anos", estava "cheia de bebidas" e com uma área de circulação ainda menor. "Queria passar com um saco de compras e não podia. Uma coisa do outro mundo. Chorei e sofri muito. Foram muitas noites sem dormir", recorda Arminda, que não esquece as intimidações de que foi alvo "quando chamava a Polícia, por causa do ruído que faziam na loja, à noite", já que esta permanecia aberta durante a madrugada.
“A loja já chegou a estar aberta até altas horas da noite, por vezes estão com dezenas de pessoas lá dentro. Tenho que esperar pela saída dos clientes para entrar. Isto mata-me por dentro”, diz.
O tribunal ordenou já que fosse criado um acesso livre de 90 centímetros para a moradora entrar, mas nada foi feito. A casa pertence à Fundação Luís Araújo, que já lhe pagou cinco mil euros de indemnização.