Em
O Primeiro de Janeiro

17 Dec 2021, 0:00

210

O Pai Natal Sensato

Opinião

Por Alexandre Gonçalves *

O Pai Natal Sensato sabia que o Natal estava imerso em irreflectidos impulsos consumistas.

Esse consumo desproporcionado estava ligado não só aos presentes que se ofereciam, como também aos elementos que compunham toda a ambiência natalícia. Os cenários de festividade, de solenidade e de alegria, combinados com as prédicas de cariz religioso que “personificam” e simbolizam a conciliação e a harmonia, provocavam um exagerado sentimento de satisfação e estimulavam o consumo.

O Pai Natal Sensato percebeu rapidamente que o nascimento de Jesus contribuía expressivamente para a edificação de um ambiente animicamente propício ao incremento do dinamismo comercial, onde os chamamentos para a reconquista do semblante religioso do Natal somente usufruíam de “iterações” em superfícies muito limitadas e pontualizadas, nas quais o papel da religião ainda ia sendo valorizado.

Ao contrário dos outros Pais Natais, o Pai Natal Sensato era contra o dispositivo capitalista que se estruturava tanto na produção como no apelo ao consumo. Esse dispositivo capitalista estava muitíssimo vigilante e concentrado em todo este embrulho e, simultaneamente, contava com alguns trunfos fundamentais para atingir as suas finalidades como sejam: a publicidade; o marketing; as redes sociais; os desenhos animados; e o cinema.

O Pai Natal Sensato estava triste e preocupado com todo o invólucro capitalista, no qual “possuir” era mais relevante do que “ser”. O Pai Natal Sensato tinha a noção de que o emaranhado método de “comercialização” das relações sociais aleitava, em inúmeros indivíduos, o sentimento de que os presentes não eram uma forma através da qual se exteriorizava o amor, mas sim o amor na verdadeira ascensão da palavra. Parecia que não receber um presente era precisamente igual a não ser amado, erguendo-se, desse modo, o “capricho” e a obstinação pelos presentes.

O Pai Natal Sensato pediu ao Ponderado, um fiel amigo que era duende mágico, um saco de pó mágico e espalhou-o pelo mundo inteiro. Esse pó mágico fez com que o consumo se metamorfoseasse em organizado e moderado. Foram circunscritas as necessidades por compulsão, nas quais a publicidade subliminar, bem como o marketing belicoso e provocador prescreviam as regras e dominavam o jogo. O comércio deixou de se aproveitar das lendas e do culto para vender quinquilharias como, na maioria dos casos, eram os presentes de Natal.
O Pai Natal Sensato defendeu sempre que o consumismo, por abrigar conveniências empresariais perniciosas, devia ser degustado como uma desfiguração do próprio consumo. Os cidadãos aperfeiçoaram os hábitos de consumo e começaram a ter consciência de que a sedução e a aliciação podem alcançar pergaminhos de efectiva psicopatia consumista universal. Jesus nunca foi o Pai Natal e os objectivos empresariais nem sempre estão em sintonia com índoles e sentimentos verdadeiramente natalícios e religiosos.

O Pai Natal Sensato, com a preciosa colaboração do seu fiel amigo Ponderado, alterou tudo aquilo que era orquestrado pelas multinacionais do brinquedo, do descartável e do supérfluo.

Felizmente que a infundada e desmesurada aquisição destes produtos já não existe, não esmagando assim os orçamentos familiares.
 

*Escritor e Técnico Superior na Divisão de Educação da Câmara Municipal da Guarda

Partilhar nas redes sociais

Últimas Notícias
Portugal deve muito aos Seminários
11/07/2025
PSP do Porto fiscaliza cerca de 30 alojamentos com estrangeiros ilegais
11/07/2025
Festival da comida Continente regressa ao Parque da Cidade este fim de semana
11/07/2025
Túnel de Ceuta condicionado ao trânsito
10/07/2025
Eupago Porto Open regressa ao Monte Aventino para três semanas de ténis internacional
10/07/2025
Monte Pedral e Monte da Bela com construção de habitação acessível adiada
9/07/2025
Boavista FC lança aposta em novos talentos para a época 2025/2026
9/07/2025
OS JOVENS EUROPEUS, A DEMOCRACIA E A EU
8/07/2025
Portugal deve muito aos Seminários
11/07/2025
PSP do Porto fiscaliza cerca de 30 alojamentos com estrangeiros ilegais
11/07/2025