20 Oct 2023, 0:00
222
O presidente do Congresso Judaico Europeu (CJE) denunciou hoje o aumento do antissemitismo na Europa e manifestou o receio de mais incidentes, responsabilizando a imprensa por "não conseguir perceber o que está a acontecer".
Numa entrevista à agência Lusa em Lisboa, onde preside a uma reunião do Comité Executivo do CJE, que hoje termina, Ariel Muzicant referiu que os países europeus têm de criar condições para uma maior vigilância e segurança na Europa, sobretudo depois de, sexta-feira, o Hamas, que desencadeou a 7 de outubro um conflito contra Israel, ter convocado um dia de "jihad" para apelar a morte de judeus em todo o mundo.
"A segurança e a vigilância contra os acontecimentos antissemitas foram reforçadas em todo o lado. Receia-se que venham a ocorrer muito mais incidentes na Europa. E, mais uma vez, estão a atacar civis em sinagogas, em escolas, em centros comunitários", afirmou.
Muzicant deu como exemplo os atos de terrorismo na Tunísia, onde uma sinagoga foi hoje destruída e em Berlim uma outra foi alvo de cocktails Molotov, a par da morte de um professor em França, país que, tal como em Itália, encerrou vários aeroportos devido a ameaças de grupos extremistas.
"Então, bem-vindo ao mundo do Hamas. Pergunta-me: 'está a acusar o Hamas de matar os judeus?' Claro que sim. O Hamas convocou na passada sexta-feira um dia de 'jihad', matou judeus em todo o lado. Nem mais, nem menos. É público. Fez o apelo e mataram judeus. Não só na Tunísia, mas em todo o lado", afirmou.
"Se formos a uma manifestação pró-palestiniana, o que eles pedem é morte aos judeus. Eu estive numa manifestação pró-Israel. Nunca apelei à morte dos palestinianos. Nunca apelei à aniquilação do povo palestiniano. Pelo contrário, penso que o povo palestiniano merece finalmente ter um futuro. Estão a apelar à morte dos judeus", acrescentou.
Muzicant denunciou também o facto de "muitos meios de comunicação social" estarem a apoiar a situação "ao não dizerem que esta [o Hamas] é uma organização destrutiva, corrupta e criminosa".
"Apelar à morte de judeus civis é um crime e vamos persegui-los agora em tribunais internacionais, em tribunais locais, e vamos tentar obter mandados internacionais contra qualquer dirigente do Hamas que sobreviva a estes próximos dias. Qualquer um. Serão levados a tribunal. É aí que devem ir, e para a prisão", sustentou.
"Esperem uma semana e verão, quando saírem as fotografias de Gaza de civis mortos, infelizmente, verá como a imprensa será simpática. A imprensa não compreende o que está a acontecer, e a esquerda e muitos críticos não compreendem", acrescentou.
Sobre Portugal, o presidente do CJE escusou-se a comentar as críticas relacionadas com suspeitas de corrupção na atribuição de passaportes e nacionalidade portuguesa aos judeus sefarditas, considerando que não se intromete em questões internas de um Estado.
Muzicant, no entanto, afirmou estar ciente da questão, que é comum a outros países europeus, como a Hungria e a Áustria.
"Acho ótimo que Portugal tenha redescoberto o seu passado. Penso que é ótimo que faça o que faz neste sentido, mas tem de ser feito de uma forma legal e correta", declarou Muzicant, que sublinhou que as autoridades portuguesas estão a "portar-se bem" na luta contra o antissemitismo, destacando não ter "quaisquer queixas".
Sobre a reunião do comité executivo do CJE, Muzicant lembrou que a organização existe com o objetivo de apoiar as cerca de 50 pequenas comunidades na Europa -- em Portugal estima-se entre 2.500 e 3.000 os membros da comunidade -- para que não desapareçam.
"Infelizmente, se não ajudarmos, vão desaparecer. A comunidade de Lisboa é a representante do povo judeu em Portugal. Eles são filiados no CJE e é importante que os apoiemos e que digamos também ao governo local e a todos os outros: por favor, recordem o que fizeram, a decisão que tomaram no Parlamento Europeu para promover a vida judaica. E promover a vida judaica significa apoiar a sua comunidade", terminou.
(In Noticias ao Minuto)