23 Jan 2024, 0:00
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O mural de cinco metros de largura “Síntese da História”, que Abel Salazar (1889 – 1946) pintou para o icónico Café Rialto, junto ao Rivoli, voltou a ver a luz do dia. Uma parede de pladur, colocada há dois anos no espaço que é atualmente ocupado por uma loja de ‘fast-fashion’, foi removida. A iniciativa partiu de dois cidadãos que entraram em contacto com o novo proprietário daquele que foi em tempos o primeiro arranha-céus do Porto, divulga o Porto Canal.
Quem passeia pelo Centro Histórico do Porto, na zona da Praça D. João I, pode até nem reparar no edifício alto verde, mas os portuenses mais velhos lembrar-se-ão daquele que foi o primeiro arranha-céus do país e do porquê de ter ficado conhecido como ‘Edifício Rialto’. Um dos primeiros ‘habitantes’ desta estrutura foi o icónico Café Rialto. Com dois pisos ligados por uma imponente escadaria em mármore e um mural de cinco metros de largura pintado por Abel Salazar, era um local frequentado por poetas contestatários do Estado Novo.
O espaço foi desenhado pelo arquiteto Artur Andrade, o mesmo do cinema Batalha. E se em 2022, o Batalha devolvia aos ‘olhos’ da cidade os frescos de Júlio Pomar que a tinta da censura da PIDE tentou esconder, a pintura de Abel Salazar vai também voltar a ver a luz do dia. Mas por trás do seu desaparecimento não está nenhuma histórica poética de resistência ao fascismo: a pintura foi escondida atrás de uma parede porque a loja que agora ocupa o espaço … precisava de instalar mais prateleiras para expor produtos.
A edição impressa do Público desta terça-feira dá a ‘boa-nova’ de que a pintura deixou de estar destapada. O diário informa que a vontade partiu de um cidadão portuense após ter tomado conhecimento da obra que se encontrava oculta pela estrutura de pladur. Renato Soeiro colocou na ordem do dia um tema que viria a contar com o apoio do escritor Mário Cláudio, candidato pelo Bloco de Esquerda à Câmara de Gaia, nas eleições de 2021.
Numa visita ao local é possível constatar que os clientes se mantêm alheios à obra do médico e pintor portuense. As atenções de quem entrava eram divididas entre uma prateleira gigante com peluches coloridos e uma secção com produtos de beleza. Apenas um jovem, mais tarde, se deixou hipnotizar pelas cores escuras e procurou absorver todos os detalhes, possivelmente à procura de uma assinatura.
Em declarações ao mesmo órgão de comunicação, a responsável pelas lojas Miniso em Portugal adianta que no futuro pretendem melhorar a iluminação do mural e proceder à colocação de uma placa com identificação do autor e uma breve história da pintura, assegurando assim o seu correto enquadramento na loja. Segundo Sara Silva, quando abriram a loja nas atuais instalações tomaram a decisão de colocar a parede de pladur para proteger a obra já que necessitavam do espaço para estarem exibidos os seus produtos.