4 Feb 2025, 9:23
118
"Somos nós que fazemos o destino". Foi com as palavras de Miguel Torga que o general António Ramalho Eanes terminou o discurso da cerimónia de entrega do Grande Prémio da Fundação Ilídio Pinho, que recebeu, na manhã desta segunda-feira. Momento juntou, nos Paços do Concelho, as mais diversas personalidades nacionais, numa homenagem ao primeiro chefe de Estado eleito democraticamente, personalidade que, sublinhou o presidente da Câmara do Porto, apresenta "um percurso militar, político e cívico que permanece vivo e continuará a inspirar e moldar o futuro".
Apesar de afastado, por decisão pessoal, da esfera pública e, assim, de distinções em sua honra - que, diz, "não mereço" -, Ramalho Eanes admitiu que "esta homenagem me sensibiliza". O Grande Prémio da Fundação Ilídio Pinho pretende premiar personalidades que trabalhem na promoção, divulgação e defesa dos valores da portugalidade, também reconhecidas pela comunidade internacional.
Acolhendo, assim, a portugalidade como tema, o general dirigiu-se à plateia refletindo sobre a educação, a informação, a cultura e a cidadania. Para Ramalho Eanes, importa "olhar, mas olhar verdadeiramente, para o futuro".
"Um povo, se alinhar os seus defeitos e potenciar as suas qualidades, pode construir com realismo e objetivos claros o futuro que deseja e merece. E não aceitar o futuro que acontece por mera força das circunstâncias. Um futuro com sentido e propósito estratégico. Um futuro que possa trazer a felicidade", afirmou o general.
Na homenagem nos Paços do Concelho, o presidente da Câmara destacou "a frontalidade, coragem e resiliência com que o general Ramalho Eanes pautou a sua vida política e militar", nunca "se deixando condicionar por interesses de ocasião ou pressões políticas". "Foi, como sempre, um homem de convicções firmes e princípios inabaláveis", defende Rui Moreira.
Certo de que "a atribuição deste prémio traduz o sentimento de gratidão que o general Ramalho Eanes suscita nos portugueses", o autarca considera o homenageado "um homem do presente", uma vez que, sublinha, "a sua voz continua a ser escutada com o mesmo respeito e atenção", mas, também, do futuro, que "ficará eternizado, não apenas nos livros de História, mas também no sentir profundo dos portugueses de diferentes gerações".
Nas palavras de José Pedro Aguiar-Branco, "há pessoas maiores do que o seu tempo, maiores que um contexto, maiores que um partido, movimento ou ideologia". "Há pessoas que nos recordam que a História é feita por mãos humanas", reforça o presidente da Assembleia da República que, nesta homenagem, representou, igualmente, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, impossibilitado de marcar presença.
José Pedro Aguiar-Branco considera que Ramalho Eanes "lembra-nos que a nossa democracia, como hoje a conhecemos, não nos foi oferecida, não estava escrita nas estrelas. Teve de ser conquistada. Teve, e tem, de ser construída todos os dias com o empenho e a criatividade cívica de todos".
Enaltecendo como o general "aceitou o poder sem nunca o desejar para proveito próprio", o presidente da Assembleia da República refere-se a Ramalho Eanes como "o construtor de pontes, de transições, de consensos" entre as várias forças políticas e instituições, a quem "o país continua a dever, ainda hoje".
Em representação do primeiro-ministro, o ministro dos Assuntos Parlamentares sublinhou como "homenagear homens como Ramalho Eanes, disseminar o seu exemplo – pela palavra e pela ação – é cultivar uma força de contágio de que não devemos abdicar”. “O que nos deve inspirar é o seu empenho e a sua esperança em Portugal", reforça Pedro Duarte.
Para o ministro, "uma das maiores aprendizagens e inspirações prende-se com a necessidade de reabilitar a política, devolvendo-lhe a ética e a elevação". "Sintamo-nos todos inspirados e convocados para esta tarefa de construção de uma democracia mais robusta, mais participativa e mais exigente, para que possamos contribuir para tornar a nossa vida política mais adulta, mais educada e mais competente", concluiu Pedro Duarte.
Pela Fundação Ilídio Pinho, o seu presidente lembrou que, na medalha entregue a Ramalho Eanes, da autoria de Álvaro Siza Vieira (também ele já homenageado, assim como José Tolentino Mendonça), está inscrita a palavra "liderança".
"É com a sua exemplar liderança como militar e como primeiro presidente eleito na nossa democracia que o cidadão António Ramalho Eanes entra na história de Portugal", afirma Ilídio Pinho, reforçando como o homenageado "foi o homem que mais poder teve não mãos e o que mais poder soube distribuir, equilibrando uma sociedade crispada".
Por seu lado, o diretor executivo do júri enalteceu o "exemplo vivo de um oficial e cavalheiro da democracia". "É um dos raros portugueses que gera consenso, um ponto de encontro dos nossos desencontros", considera Carlos Magno. O responsável sublinha que a entrega do Grande Prémio da Fundação Ilídio Pinho, cujo valor pecuniário de 100 mil euros associado foi recusado pelo general, distingue em Ramalho Eanes "a liderança da sua vida" e a "lealdade ao povo a que pertence".
Marcaram presença na entrega do prémio, entre outras personalidades, a esposa do general, Manuela Eanes, e o bispo do Porto, Manuel Linda.
Fonte: CM Porto
Foto: CMP | Luís Moura